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quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

OS 10 CARBURADORES MAIS INTERESSANTES EXISTEM




Carburador é uma coisa seriamente ultrapassada, um anacronismo em extinção, mas sou muito mais fã dos carburados do que dos injetados. A injeção eletrônica é algo tão bom que não há como não idolatrá-la, principalmente se você,  passou a adolescência e boa parte da vida adulta em meio a épicas batalhas com aquelas traquitanas cheias de furos, válvulas, canetas, dutos, tubos, mangueiras, gasolina, borboletas, boias, alavancas, molas e outros mil componentes estranhos que nem consigo nomear, e perdeu todas elas. Um carburador não é ajustado nunca à perfeição; apenas o ajustador se cansa e aprende a conviver com ele assim mesmo, no melhor que pode fazer. É o pesadelo do perfeccionista.

Essas camicletas incrivelmente complexas e ineficientes atendiam por uma série de nomes estapafúrdios que deslizavam pela ponta de nossas línguas feito evangelho da boca do padre: Brosol 2E, 3E, Solex 40, TLDZ miniprogressivo, Weber 34, Motorcraft bijet, Stromberg-SU de Dojinho…. sem falar naquele que é o nêmeses dos donos de Dodge e Opala 250-S, o temível dispositivo evaporador de gasolina que atende pelo nome de DFV 446. O DFV era famoso por uma série de piadas, como aquela que dizia que jogava mais gasolina para fora do que para dentro do motor. Meu primeiro carro era um Opala 1980 com um 250-S, em que o DFV teimava em travar a bóia da cuba a cada buraco ou irregularidade mais forte, me obrigando a abrir o capô, tirar o panelão do filtro, e destravar a jaca com um martelinho. Não era o fim do mundo, mas extremamente desagradável se você ia a um casamento e estava de fraque, e com uma arrependida namorada, que certamente naquele momento imaginava o porquê de ter escolhido aquele idiota anacrônico e carburado em detrimento ao Mauricinho e seu reluzente e injetado Gol GTI. Outro dia recebi a foto abaixo, apenas com o título: “Os Portões do Inferno”. Rolei de rir…

Mas ainda assim, apesar de hoje particularmente preferir me manter  nos carburadores,eles tem algo de especial. Alguns deles são positivamente afrodisíacos automotivos, coisas tão legais que não podemos deixar de admirar. Principalmente quando funcionam direitinho… Sempre que vejo um motor alimentado por carburador com marcha lenta estável, baixa e suave, e um funcionamento sem buracos ou engasgos em todas as rotações, não consigo deixar de admirar o dono da jaca. Ou acordar do sonho.

Sendo assim, e não sem ajuda de amigos, preparei a listinha embaixo, dos 10 mais legais carburadores já criados. Na verdade, em alguns casos, nomeei um esquema de carburadores em certo motor, porque, sabe-se lá porque, alguns carburadores são irrelevantes sozinhos, mas ficam sensacionais em grupos de dois, três ou quatro, alimentando um particular motor.


1) O Weber duplo



Edoardo Weber pode ter criado a empresa que leva seu nome, e ser um pioneiro em carburadores de corpo duplo progressivo, com diâmetros de borboleta diferentes, onde a borboleta menor abre primeiro e depois abre a maior, para economia e desempenho num pacote único. Mas as obras-primas desta empresa italiana apareceram no pós-guerra, já quando era parte do vasto conglomerado da Fiat. Edoardo, que era fascista durante a guerra, sumiu em 1945, certamente executado por um dos vários grupos políticos extremistas que assassinaram uma série de líderes da indústria italiana ao fim da guerra.


E o carburador que, no pós-guerra, fez a Weber realmente imortal, também não era progressivo. Tem diâmetro de borboleta igual nos seus dois corpos, e estas borboletas se abrem sempre juntas, para desempenho acima de tudo. E é uma coisa linda…




Tanto em versões horizontais como verticais, esses carburadores, além de serem belíssimos (praticamente, dois tubos com um mecanismo pequeno no meio), são de uma simplicidade e facilidade de ajuste tremenda. Sua aplicação em veículos de alto desempenho foi praticamente universal antes do advento da injeção, e até hoje é um equipamento popular entre preparadores. Realmente uma obra-prima.

Decorou os melhores V-12 da Ferrari e da Lamborghini, seis deles em cada V-12. Lotus, Coventry-Climax, Cosworth, Alfa Romeo… Não existe um grande motor europeu que não ficou melhor com os Webers. Até os V-8 americanos, que tradicionalmente preferem os carburadores de corpo quádruplo, ficam exóticos e interessantes com essas coisinhas lindas. Os Ford GT40 que o digam.


Na verdade, os Weber duplos, sejam eles horizontais ou verticais, ficam bons em qualquer lugar, de mundanos Opalas e Chevettes, até exóticos Ferraris e Lamborghinis. Um clássico imortal.

2) SU




este que é o mais inglês dos carburadores, e um dos mais geniais em seu funcionamento. Equipou praticamente tudo que veio da Inglaterra na era carburada, e mais alguns outros como Volvos e Saab suecos, e alguns japoneses sob licença. O Dodge 1800 brasileiro era equipado com um. Para mim, só o fato de três deles decorarem a lateral do seis em linha do magnificamente magnífico Jaguar E-type, já vale um lugar na lista.



3) Holley four-barrel


O clássico americano. O Holley, em suas várias versões, imitações e evoluções, têm sua casa preferida no meio de um V-8 americano. Ainda popular e produzido em volume, o Holley e o V-8 foram feitos um para o outro, e seja sozinho, em dupla, ou em cima de um gigantesco compressor GMC que atravessa o capô, é tão imortal quanto o Weber, e com ele, um dos únicos a sobreviver em produção na era da injeção, ainda que apenas para o mercado de preparação.

4) Autolite (Ford) de quatro corpos em linha





Agora um treco extremamente raro e legal: junte dois Weber duplos e se tem um Weber de corpo quádruplo, alinhado! Produzido em 1970 para ser usado em Mustangs V-8 nas competições de Trans-Am, pela Autolite, uma das divisões de autopeças do gigante americano. A foto foi tirada por Fran Hernandez, da Ford, para que a SCCA (Sports Car Club of America, promotor da série Trans-Am) acreditasse que a empresa tinha produzido a quantidade necessária para homologação.


5) Stromberg 97´s





O clássico carburador dos Ford V-8 de cabeça chata preparados. Com coletores Offenhauser ou Edelbrock, em cima de flatties tradicionais ou em exóticos Ardun, já faz parte do imaginário coletivo entusiasta mundial.



O número 97 dentro de um círculo, gravado em relevo em todo Stromberg 97, já virou acessório de moda em camisetas mundo afora, apesar de, na vasta maioria das vezes, os jovens que usam estas camisetas não façam ideia do seu significado…

6) Solex H30




Equipamento original do VW Fusca 1300, este Solex francês está aqui por dois motivos: sua simplicidade e sua versatilidade. Quantas vezes um carburador de Fusca já não resolveu insolúveis problemas em carburadores obscuros, simplesmente substituindo-os? Tenho para mim que qualquer coisa funciona razoavelmente bem se você colocar nele um Solex de Fusca… Uma coisa simples e genial.

7) O quarteto de Mikunis



Motocicletas ainda podem ser compradas com carburadores, e portanto tinha que incluir elas na lista. Pensei em colocar os Amal ingleses, umas coisinhas bem legais, mas isso aqui é ainda mais interessante. Os Mikuni monocorpo normalmente são usados em quartetos, bem abaixo da genitália do indivíduo que se aboleta numa japonesa de quatro cilindros em linha refrigerada a ar. Às vezes acompanhados de cornetas cromadas, são lindos e avassaladoramente eficientes.

8) Holley (Chrysler) Six Pack




Um carburador Holley 2300 de corpo duplo não é, sozinho, algo a ser lembrado. Mas junte três deles em um alto coletor de alumínio Edelbrock, empoleirados em cima de um V-8 Chrysler de 440 polegadas cúbicas, e têm-se a real matéria-prima com a qual se constroem as lendas. Mil e duzentos pés cúbicos por minuto de pura ferocidade incontida.



9) Zenith-Solex corpo triplo para Porsche 911






Outra cópia de Weber, mas nesse caso uma cópia alemã (produzido por uma empresa francesa) de três corpos para os primeiros 911. Deliciosamente exótico e incomum, velho fetiche meu. A Weber fez um parecido, e colocou quatro deles em cima do 12 cilindros contraposto dos primeiros Ferrari Berlinetta Boxer.

10) Tripla de DFV 446 em Opala seis cilindros




 Antes das importações voltarem a ser permitidas, quando os Opalas dominavam as ruas e estradas deste país, pouca coisa era mais legal que uma tripla de DFVs num Opala cupê seis-cilindros. Sim, triplas de Weber eram ainda mais legais, mas eram tão raras e caras, que eram irrelevantes; quem as tinha são os mesmos que hoje compram um Ferrari e acabam com a brincadeira. Eu sei que tinha coisa mais legal, mas nunca tinha visto, não faziam parte do meu mundo. Já o DFV, tinha um deles debaixo do meu capô, e, portanto era íntimo dele, se é que me entendem…




Mas se um DFV sozinho era quase impossível de se fazer funcionar direito, nem dá para imaginar três em conjunto.
Aquele 76 branco soava liso, mas bravo, ardido, girador, violento. E alto. Muito alto. Não só alto pelo escape, mas alto também pelo lado da aspiração do motor, um barulho como de um dragão tomando fôlego antes de soltar uma coluna de fogo. Era algo irreal, um treco como que saído das profundezas do inferno, medonho, apavorante. Crianças se agarravam na saia da mãe e cachorros fugiam com o rabo entre as pernas, seu latido silenciado debaixo daquela parede sonora. Homens crescidos davam um passo para trás, assustados. Fiquei pensando que se alguma pomba passasse voando por ali, cairia em cima do carro mortinha da silva, fulminada pelo barulho somente.

Quando o dono daquilo abriu o capô e me mostrou o trio de DFV’s ali embaixo, bem… A tripla de DFV 446 ficou indelevelmente gravada no meu subconsciente como algo extremamente desejável

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