Você sabia que mesmo sem um display no painel seu carro pode ter computador de bordo? Você só precisa de um smartphone, um conector esquisito e um aplicativo esperto. Vai ser legal ter o painel do GT-R , não?
Meu carro não tem computador de bordo, mas tem dezessete módulos integrados a sensores eletrônicos que processam cada elemento de seu funcionamento. Não sei por que cargas d’água o fabricante não colocou um bendito display para informações básicas – já que todo o resto está lá – mas sei que quero um computador de bordo no meu carro.
Comecei a procurar modelos de computador de bordo aftermarket, mas todos tinham aqueles displays feiosos de relógio G-Shock, dificílimos de ler, desajeitados de instalar e ainda usavam cabos para conectar.
Um dia, viajando pela loja de aplicativos do meu smartphone, descobri vários aplicativos “OBD” capazes de ler e transmitir as informações da central do meu carro.
Legal, já tenho os aplicativos. Falta só o conector OBD.
Mas o que é OBD?
OBD é a sigla de “On Board Diagnostics” – ou diagnóstico de bordo – uma interface padrão criada pela indústria automotiva na década de 1990, que permite que qualquer computador acesse e leia as informações processadas pela central eletrônica do carro (ECU, também chamada de “módulo de injeção”). Essas informações podem variar de acordo com o carro; modelos mais simples terão menos informações que os modelos recheados de eletrônica.
No caso do meu carro, a ECU processa as informações enviadas pelo módulo de ignição e injeção, e pelos sensores de pressão no coletor, rotação das rodas, ângulo de viragem do volante, posição da borboleta, temperatura do motor, rotação do motor e rotação do eletroventilador. Tudo isso permite que o carro tenha controle de tração e estabilidade, ABS e EBD, além de controlar melhor a injeção e a queima de combustível.
Quando algo falha, é gerada uma mensagem de erro que acende a luz de serviço no painel do carro e ela só pode ser lida por um computador de diagnóstico — o tal scanner automotivo. Ele é conectado pela porta OBD e seu software é capaz de interpretar o conjunto de informações dessa interface e assim ajudar o mecânico a detectar o erro e/ou monitorar o funcionamento do motor.
Mas isso também significa que você pode acessar as informações da central a qualquer momento, por qualquer motivo. Fazer um computador de bordo é um desses motivos.
O conector OBD-II
O conector OBD-II é o cara que faz a mágica acontecer. Ele tem esse número II no fim do nome para indicar a segunda geração da interface, que é usada em praticamente todos os carros produzidos desde 1996. Existem conectores OBD Wi-Fi e Bluetooth e você pode comprar qualquer um se usar Android. Os gadgets da Apple funcionam apenas com o conector Wi-Fi, que chegam a custar três vezes mais. Você pode comprar o conector pelo Mercado Livre ou eBay, onde os preços variam de R$ 50 a R$ 300.
Agora, um pequeno inconveniente: apesar do padrão de conector, alguns carros usam a sequência dos pinos de informação diferentes, e por isso certos aplicativos podem não reconhecer as informações da ECU. Por isso, antes de comprar, verifique com o vendedor se o modelo é compatível com seu carro e também procure restrições ou recomendações de modelos de conector no site do desenvolvedor do aplicativo (veremos isso em seguida).
Os aplicativos
Quando você procura por OBD no Google Play ou na iTunes App Store a busca retorna muitos “aplicativos” que são apenas listas com a descrição dos códigos de erros, algo que você só descobre com um scanner – que geralmente já indica a descrição do erro.
Para facilitar o trabalho de quem não trabalha escrevendo guias como este, já fiz a parte chata dessa história, que é procurar os melhores aplicativos. Eles estão separados por preço, avaliação de usuários e características de funcionamento.
Aqui estão os principais de cada plataforma (clique no nome para visitar a loja online):
iOS
Rev – DevToaster -US$ 39,99
Um dos mais completos da App Store (e também dos mais caros). É capaz de monitorar velocidade, RPM, consumo de combustível, pressão do turbo, temperatura da água, pressão de combustível, abertura da borboleta, pressão do coletor de admissão, temperatura do ar admitido, ponto de ignição, fluxo de ar e nível de combustível.
Também usa sensores de movimento do aparelho para calcular torque e potência na roda, além de cruzar dados para velocidade real. A versão completa ainda faz diagnóstico de falhas e permite apagar a luz de serviço do motor. O diferencial deste app, é que ele também funciona comodatalogger para suas aventuras em track days.
Logworks – Innovate Motorsports – grátis
Não é tão completo quanto o Rev, mas tem interface mais direta e fácil de usar. Além de registrar os dados de viagens como qualquer computador de bordo de fábrica também indica códigos de falhas. Monitora apenas velocidade, RPM, consumo e nível de combustível, e pressão da admissão, mas exporta os dados em planilhas para arquivamento. Usa os sensores de movimento para medir as forças de aceleração longitudinal e lateral — ou seja, também serve para registrar dados de pista.
MD4Mycar – Launch Tech Co. – grátis
A interface é simples, quase amadora, e tem apenas o conta-giros em escala. Seu forte é a função de diagnóstico, que também permite apagar a luz de serviço. Entrou na lista por ser gratuito, e pode ser o suficiente para quem quer apenas descobrir por que aquela maldita luz está acesa. Além disso, ele tem um conector próprio para garantir a compatibilidade.
GoPoint – Go Point Technology – grátis
Outro app com interface simplista, com listas e botões. Como é grátis e informa consumo médio e instantâneo, além do diagnóstico, pode ser a solução ideal para quem não quer nada além de monitorar o consumo.
DashCommand – Palmer Performance Engineering – US$ 9,99
É o mais completo da loja e o que mais se aproxima de um computador de bordo integrado de fábrica. A interface não é muito refinada, mas é fácil de ler e toda baseada em escalas. Você pode escolher quais instrumentos ficarão na tela e distribuí-los como achar melhor.
A lista de elementos monitorados impressiona pela extensão (depende, obviamente, da presença dos sensores no carro): velocidade do motor, do veículo, cut-off, pressão no coletor, temperatura do óleo, da água, da admissão, ponto de ignição, carga do acelerador, consumo médio e instantâneo, nível de combustível, sensor de oxigênio e relação estequiométrica (mistura ar-combustível).
Como computador de bordo, registra distância total de viagem, volume e média de consumo de combustível, tempo total de viagem e rodagem, volume médio e total de CO2 emitido, média de velocidade, número de paradas, velocidade e aceleração máxima e outras variáveis que te ajudam a descobrir vícios de direção como “percentual de tempo em marcha não-ideal”. Sim, ele também funciona como datalogger.
Ah, e como se não bastasse, ele ainda faz diagnóstico de erros e apaga a luz de serviço do motor.
Android
Uma grande vantagem dos aplicativos Android é que todos eles têm versões demo para testar a conectividade e interatividade com seu carro. Outro ponto positivo são os preços, sempre cotados em real e bem mais baratos que os apps pagos para iOS.
Torque – Ian Hawkins – grátis/R$ 11,68
O mais popular dos aplicativos OBD para Android também é o mais completo. Em sua forma original ele não é muito bonito, embora use escalas. Faz tudo o que se espera de um app OBD, e tem uma enorme vantagem sobre todos os demais apps desta lista: plugins.
Eles podem deixar o aplicativo idêntico ao computador do Nissan GT-R, por exemplo. O plugin Track Recorder usa câmera para filmar sua volta no track day com todos os instrumentos virtuais ao redor da tela.
OBD Dashboard – Nicolas Frenay – R$ 3,99
O único aplicativo brasileiro da lista é bem completo e personalizável. Faz leitura de todos os parâmetros, como velocidade do motor e do veículo, pressão no coletor de admissão, pressão da linha de combustível, consumo médio e instantâneo, ponto de ignição, temperatura do ar admitido, posição da borboleta e carga do acelerador etc. Em uma lista você escolhe as informações que deseja durante a condução e as seleciona para a tela principal. Fica devendo apenas o diagnóstico de falhas.
Car Gauge – OBD Scantech – R$ 14,31
O Car Gauge é o único aplicativo da lista que especifica os protocolos suportados em sua página de download, algo que facilita muito na hora de escolher o app – uma vez que existe a chance de incompatibilidade com a central eletrônica. Este app também permite a personalização dos instrumentos na tela inicial, com todas aquelas funções de monitoramento, e também informa códigos de falha.
Trip – Tabloiti – R$ 7,88
É o que mais se aproxima de um computador de bordo de fábrica. Serve como diário de bordo, mas indica velocidade e consumo instantâneo e a média total do percurso ou período selecionado. Tem função HUD e também consegue ler alguns parâmetros de funcionamento do motor, como a temperatura do fluido de arrefecimento — ausência criticada e sentida por muita gente nos carros modernos.
OBD Droidscan Pro – MockOne Performance – R$ 7,19
É muito semelhante ao Torque, mas não tem os instrumentos virtualizados – todas as informações são em números e listas, o que dificulta a leitura ao volante. Apesar disso, permite monitoramento abrangente da central eletrônica e exporta os dados para um computador. As informações exibidas na tela são velocidade do veículo e do motor, fluxo de ar, pressão no coletor, pressão de admissão, avanço de ponto de ignição, carga do acelerador, consumo médio, temperatura do motor, temperatura do ar admitido, pressão atmosférica, temperatura ambiente, pressão e nível de combustível, e leitura dos sensores de oxigênio.
hobDrive – hobDrive – R$ 50,05
O visual é semelhante ao do GoPoint para iOS: com fundo branco e números de traço fino, sem marcadores com escala e ponteiros. As funções são um pouco mais abrangentes: além do consumo médio e instantâneo, informa temperatura da água e do ar admitido, pressão e/ou fluxo de ar no coletor e velocidade do veículo.
O sensor de movimento calcula o tempo de viagem e o número de paradas, e o modo de diagnóstico indica falhas e apaga a luz de serviço.
Agora só restou a parte divertida: escolher e testar os aplicativos. Para afixar o celular você pode usar aqueles suportes com ventosas ou então, se você tiver um daqueles aparelhos multimídia com conectividade para smartphones (caso do sistema App Radio da Pioneer), poderá espelhar a tela do gadget e até operar os aplicativos pela tela do aparelho.
Fonte: http://www.flatout.com.br
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