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sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Citroën C6


Em 1955, a Citroën causou uma revolução com o lançamento do DS, um automóvel com nível de sofisticação surpreendente naquela época. Seu estilo diferente e arrojado, em que se destacavam as formas esguias, marcadas pelo desenho dos faróis e pelo longo capô, colocava-o como um ponto fora da curva em relação à concorrência. Tinha acabamento sofisticado e trazia um pacote de inovações tecnológicas, como freios a disco, direção assistida e suspensão hidropneumática, que lhe dava a reputação de ser quase à prova de capotagens. Tudo isso só fazia aumentar a aura de exclusividade, a ponto de inaugurar sua saga gloriosamente, como o veículo oficial do general Charles de Gaulle, presidente da França e herói da Segunda Grande Guerra. Alcançou reputação internacional e vendeu 1,45 milhão de unidades até 1975, quando foi retirado do mercado, mas nunca mais nenhuma outra montadora francesa realizou proeza semelhante. Durante os últimos 50 anos, as marcas alemãs Audi, BMW e Mercedes avançaram sobre esse mercado de automóveis sofisticados de tal forma que hoje o dominam sem contestação. No ano passado, dos cerca de 560000 carros desse segmento vendidos na Europa, nada menos que 90% do que se comercializou nele pertencia à trinca germânica. Para voltar a ter voz na faixa mais rentável do mercado, os executivos da PSA, o grupo que controla a Citroën e também a Peugeot, decidiram reagir em duas frentes: numa primeira investida, acabaram de lançar o C6, que avaliamos na França ao longo de 200 quilômetros. O percurso entre a capital francesa e a região de Mantes La Jolie combina trechos de auto-estrada e rodovias mais sinuosas às margens do rio Sena.

O modelo chegou ao Brasil a partir desse ano e deverá custar cerca de 230000 reais. Daqui a dois anos será a vez de se apresentar o Peugeot 608, que será construído na mesma plataforma na linha de montagem de Rennes, na região oeste da França, e que terá um perfil igualmente refinado, mas mais esportivo.

O C6 que dirigimos nos esperava estacionado diante do Plaza Athenée, um dos hotéis mais elegantes de Paris, na avenue Montaigne, também o endereço preferido de grifes como Chanel e Christian Dior. Na mesma manhã de domingo em que o dirigimos seria apresentado a membros do corpo diplomático baseados na capital francesa, que partiriam dali para um test-drive. Ao lado de empresários, altos executivos e membros dos principais escalões do governo, eles são os clientes em potencial de um carro sofisticado como esse.

Logo à primeira vista o novo Citroën causa boa impressão. Suas formas exteriores estão longe de ser banais: derivam das que exibiu o protótipo Lignage, revelado no salão de Genebra de 1999, e são bem mais instigantes que o estilo meio quadradão do XM, lançado em 1989, último representante da montadora francesa no segmento do luxo. São contornos opulentos e marcantes, que começam pelo longo capô, seguido de um entreeixos de 2,90 metros, teto em curva (o que lhe dá uma forma de cupê e remete às linhas do DS), uma enorme área envidraçada e a traseira truncada. "O estilo do C6 foi concebido para que ele possa ser um carro com identidade própria", diz Marc Pinson, o projetista que desenhou o Lignage. Isso explica, segundo ele, o desenho diferente dos faróis e da grade dianteira, que integra as formas do logotipo da Citroën, e as lanternas traseiras, com contornos côncavos.

Visto por dentro, a primeira idéia que o C6 passou foi a de ter espaço e sofisticação de sobra. Pernas, costas e cabeça se acomodam bem nos assentos da frente, reguláveis eletricamente com o auxílio de comandos nas portas. O mesmo vale para o banco traseiro, onde viajarão muitos de seus proprietários, que podem regular a distância e o encosto do banco do passageiro da frente e também o ar-condicionado, dividido em setores independentes. A madeira nobre é farta na porta e no painel e os bancos são revestidos com couro de primeira linha.

O C6 traz soluções que já deram certo nos concorrentes. Como nos Mercedes-Benz, a regulagem dos bancos é feita por meio de botões localizados do lado interno das portas (com duas memórias). Tal como nos modelos BMW da Série 5 e no Audi A6, as funções de regulagem de navegação, ar-condicionado, áudio e telefone são comutadas pelo botão no console. Em comum com os alemães mais luxuosos, este Citröen tem bancos com aquecimento e sensores de estacionamento. A exemplo dos Cadillac, outra referência no segmento, na versão Exclusive é oferecida uma função "head-up" que imprime no pára-brisa a velocidade e setas indicando a direção a seguir. "Significa um ganho de até meio segundo para o motorista", diz Pinson. Como nos Volvo S80 ou Jaguar S-Type, há botões de controle de velocidade no volante e sensores que acionam automaticamente os limpadores de pára-brisa ao detectarem pingos de chuva.

Logo nos primeiros quilômetros da A13, a rodovia que nos levou de Paris a Mantes La Jolie, chamou atenção a precisão da direção e da suspensão hidroativa - um dos estandartes da Citroën, inaugurada exatamente com o DS -, que manteve o veículo impassível mesmo a 130 km/h. O C6 é equipado com a versão mais recente, que permite a alteração de 16 níveis de amortecimento em até 400 vezes por segundo, em função do terreno. Para ajudar a dar mais estabilidade, a partir dos 110 km/h a carroceria aproxima-se cerca de 1 centímetro do solo. Silencioso e bem calçado sobre pneus largos (245/45), ele mostrou-se sempre bastante equilibrado. Aos 65 km/h, um defletor instalado na traseira do carro ajuda a dar mais estabilidade. Aos 125 km/h, a inclinação dele muda, para cumprir com rigor a mesma finalidade. Mesmo a essa velocidade, o bom isolamento acústico deixou o desagradável barulho do vento do lado de fora.

Ao apertar o botão "Sport" no console central, o comportamento do carro ficou ligeiramente mais nervoso. O câmbio automático é seqüencial com seis velocidades e as trocas manuais atendem o desejo de quem quer acelerações mais pontiagudas. Eis aí um ponto vulnerável do C6 versão a gasolina. Para amantes de performances mais intensas, a opção limita-se a um V6 com 215 cavalos, que deverá se bater contra motorizações mais potentes encontradas entre todos os concorrentes. Diante disso, o torque de 29,9 mkgf deste Citroën encontra muitos rivais em condições de superá-lo. Para completar, ele está longe de ser um carro econômico quando o assunto é consumo. Segundo os dados de fábrica, na cidade percorre 6,1 km/l, uma marca nada invejável. O motor a diesel, com 208 cavalos, tem torque de 45 mkgf e a vantagem de ser 36% mais econômico. Mas, diante da legislação brasileira, não será trazido para cá.

Cinco estrelas

Quando o assunto é segurança, entretanto, qualquer que seja a motorização, o C6 é uma referência entre os carros do seu escalão. Ele dispõe de um arsenal considerável quando se trata de evitar acidentes e proteger seus passageiros casos eles sejam inevitáveis. Basta dizer que recebeu a cotação máxima de cinco estrelas do EuroNcap (veja na página 71), órgão que submete os automóveis europeus a testes de segurança bastante rigorosos. A boa avaliação começa pelo desempenho dos sistemas de assistência e controle dos freios a disco e prossegue com o número de airbags: nove, entre os quais um que protege os joelhos do motorista em caso de colisão e uma cortina inflável que evita que estilhaços de vidro atinjam os passageiros. O volume e a pressão dos airbags são regulados de acordo com a intensidade do choque. Há também dispositivos trazidos de modelos da própria Citroën, a exemplo do C5 e o C4, como o alerta para cruzamento involuntário de faixa. Ele emite vibrações no banco do motorista sempre que o carro atravessa a faixa, um sinal que pode servir de alerta para distrações ao volante. Há detectores para sinalizar se um dos quatro pneus está murcho. Em caso de atropelamento, o capô se levanta 6,5 centímetros em 40 metros/segundo com a intenção de criar uma área para absorver o impacto da vítima com o motor.

Com um carro com o atributo de ser confortável e seguro - ainda que não concebido para sensações extremas ao volante -, os franceses esperam recuperar parte do mercado que perderam no segmento de luxo. A conversão de um cliente de peso eles já podem comemorar. Numa provável alusão aos tempos de De Gaulle, o presidente francês, Jacques Chirac, foi um dos primeiros a experimentá-lo em 2005, e aparecer em público a bordo de um C6, durante o dia 14 de julho, data nacional francesa. Seu gabinete já encomendou alguns modelos do C6 à Citroën. Ainda é cedo para afirmar que ele conseguirá o mesmo sucesso do DS, mas já é um bom começo.


No C6, o sistema de estacionamento elétrico elimina o freio de mão. Ele é acionado por um botão, situado logo atrás da alavanca de câmbio.


O sistema head-up, introduzido nos Cadillac, projeta no pára-brisa a velocidade e a direção a seguir. Sem olhar para o velocímetro ou sistema de navegação, o motorista tem meio milésimo de segundo de ganho na leitura da informação e mantém sua concentração voltada para a estrada


Como nos Audi e BMW, as funções de navegação, regulagem do ar-condicionado (que oferece temperaturas diferentes para os quatro quadrantes do carro) e acionamento das funções de áudio e telefone GSM são feitos através de um botão no centro do painel


Localizados nas portas, os controles de regulagem dos bancos com duas memórias são uma idéia adaptada dos Mercedes-Benz mais luxuosos


O motor a gasolina tem 208 cavalos

No interior, nove airbags protegem os ocupantes



Ficha técnica


Motor

Dianteiro, transversal, 6 cilindros em linha, 24 válvulas, injeção multiponto

Cilindrada: 2946 cm3

Diâmetro x curso:87 x 82,6 mm

Taxa de compressão: 10,9:1

Potência: 215 cv a 6000 rpm

Potência específica: 72,9 cv/l

Torque: 29,5 mkgf a 3750 rpm

Câmbio

automático de 6 marchas, tração dianteira

Carroceria

Sedã, 4 portas, 5 lugares

Dimensões: comprimento, 490 cm; largura, 186 cm; altura, 146 cm; entreeixos, 159 cm

Peso: 1871 kg

Peso/potência: 8,7 kg/cv

Peso/torque: 63,4 kg/mkgf

Volumes: porta-malas, 488 litros; combustível, 72 litros

Suspensão


Dianteira: ativa (16 regulagens), duplo triângulo

Traseira: ativa, braço longitudinal

Freios

Discos nas 4 rodas, com ABS e EBD

Direção
pinhão e cremalheira, com assistência elétrica

Pneus

245/45, aro 18

Principais equipamentos de série
ar-condicionado, 9 airbags, computador de bordo, ABS, EBD, suspensão ativa, controle da pressão de pneus, detector de ultrapassagem de faixa, aquecedor dos bancos, regulador de velocidade, função head-up


O Veredicto
Ainda que o C6 a gasolina não tenha o mesmo fôlego disponível nos concorrentes, ele tem cacife suficiente para encarar a briga no mercado de luxo.

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