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sábado, 17 de agosto de 2013

A história do poderoso Blitzen Benz





Nos primeiros anos do automóvel a busca por recordes de velocidade era algo quase natural. Os limites ainda eram completamente desconhecidos, os aviões mais velozes pouco passavam dos 100 km/h e os trens rodavam no máximo a 70 km/h. Nessa época surgiram alguns dos carros mais incríveis já construídos. Uma época em que não havia um combustível padronizado; as pistas eram de madeira ou tijolos e a coragem precisava de altas doses de loucura para levar um carro à sua desconhecida velocidade máxima. Um desses clássicos é o precursor dos bólidos da Mercedes-Benz. Muito antes da AMG, do 300 SL “Gullwing” e até mesmo das Flechas de Prata, havia o poderoso Blitzen Benz.

A história do Blitzen Benz começa em 1908, quando a fábrica de Carl Benz já estava estabelecida e produzia mais de 1000 unidades por ano. Naquele ano os Benz GP Rennwagen disputaram oGrande Prêmio da França, chegando em segundo, terceiro e quinto lugares, sendo superados apenas pelo Mercedes GP. O projetista da Benz, Hans Nibel, decidiu que desenvolveria um carro para mostrar toda a capacidade da fábrica que havia inventado o automóvel anos antes. Em 1909 ficou pronto algo que entraria para a história: o Benz 200 HP.




O Benz 200 HP foi construído com um único objetivo: correr até que a aerodinâmica ou sua mecânica o limitasse. O carro foi completamente projetado com o recorde de velocidade em mente, da “suave” suspensão dianteira à traseira pontiaguda. Apesar da precariedade dos estudos aerodinâmicos, Nibel decidiu usar rodas lenticulares (em forma de lente convexa). A carroceria foi pintada de branco, a cor internacional da Alemanha na época.

O destaque estava sob o capô fechado por cintas de couro: um gigantesco motor de quatro cilindros com deslocamento de 21,5 litros. Sim, você leu certo. Com 470 kg, o motor produzia espantosos 200 cv de potência a 1.600 rpm e 36 kgfm de torque a 1.000 rpm (a rotação máxima era de 1.650 rpm). A transmissão era feita por correntes e tinha quatro velocidades. Ao longo do chassi foram perfurados vários orifícios circulares, uma técnica que seria reutilizada por Colin Chapman 50 anos mais tarde para reduzir peso sem afetar a rigidez estrutural.

O primeiro recorde do novo Benz foi estabelecido na Europa: em 1909 o piloto Victor Hémery quebrou a barreira dos 200 km/h pela primeira vez em um automóvel. A segunda corrida foi na Inglaterra, mais exatamente em Brooklands, onde o carro chegou a 202,648 km/h no quilômetro lançado e 205,7 km/h na meia-milha lançada.

Ao testemunhar a vitória dos Benz GP Rennwagen no Grande Prêmio dos EUA de 1910, o organizador do evento Ernie Moros comprou um dos novos Benz 200 HP. O carro não havia sido projetado para corridas em circuitos estreitos, precisava de espaço para mostrar o que era capaz de fazer. Um lugar espaçoso como a praia de Daytona, na Flórida, com sua areia suave e compacta.


O 200 HP recordista em Brooklands

Moros mandou pintar “Lightning Benz” e uma águia imperial alemã na lateral do 200 HP, pois o carro parecia “rápido como um raio” (lightning, em inglês). O Lightning Benz pilotado por Barney Oldfield atingiu 211,40 km/h em Daytona. A velocidade era o dobro do que voavam os aviões da época e 1,4 km/h maior que a velocidade do veículo terrestre mais rápido do planeta, um recorde estabelecido em 1903 sobre trilhos.
Oldfield estava orgulhoso e empolgado por ser o primeiro homem a viajar a tal velocidade e acreditava que, caso alguém superasse sua marca, seria por uma pequena margem. Depois do recorde, Moros organizou uma turnê pelo país para exibir a capacidade do carro, mas antes traduziu o nome para o alemão “Blitzen Benz”.
Mas a empolgação de Oldfield durou somente até o ano seguinte, quando vendeu o Blitzen a Bob Burman. O novo proprietário voltou a Daytona e chegou aos 228,089 km/h, uma velocidade tão alta e impressionante que somente seria superada em 1919, quando Ralph de Palma atingiu 242,2 km/h na milha lançada com um Packard, na mesma Daytona Beach.


Bob Burman com a coroa de recordista de velocidade

O carro usado em Daytona foi vendido por Burman em 1913 e revendido em 1915, quando foi reconstruído e reapareceu em uma corrida em Nova Iorque em 1915 com o nome “Burman Special”. Burman morreu a bordo de um Peugeot em um acidente no ano seguinte, enquanto o Benz voltava à Inglaterra. O carro só reapareceria em público na páscoa de 1922, em Brooklands, ainda com a pintura branca, mas com um novo capô e um novo radiador. Seu piloto e proprietário, o Conde Louis Vorow Zborowski, não foi bem sucedido ao volante do relâmpago alemão e o desmontou em 1923.

A Benz só voltaria a obter um recorde mundial de velocidade 15 anos mais tarde, em 1934, na era das Flechas de Prata, já sob a união com a Mercedes de Gotlieb Daimler.

Outros quatro modelos foram produzidos e vendidos a pilotos, e foram tão bem sucedidos quanto os exemplares recordistas. Além dos seis Blitzen Benz fabricados na época, houve duas réplicas de alta fidelidade. Acredita-se que quatro dos cinco modelos remanescentes ainda estejam em coleções particulares até hoje. O outro, um dos Blitzen Benz recordistas, está guardado para a posteridade no museu da Mercedes-Benz.

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