Classe A200 injeta botox na imagem da Mercedes
Esqueça aquela imagem de carro sério e de “tiozão” que você tem dos Mercedes-Benz. Quer uma ajuda? Olhe para o novo Classe A aí de cima e veja como a marca da estrela está empenhada na missão de conquistar uma clientela mais jovem e descolada. Isso já fica claro com o primeiro vídeo comercial do modelo no Brasil, uma campanha que usa um improvável funk para divulgar a novidade. Do monovolume prático (mas pouco apelativo) das duas primeiras gerações, o A agora se tornou um hatch cheio de estilo, nascido para fazer bonito numa categoria de caras como BMW Série 1 e Audi A3.
Segundo integrante da nova família de compactos da Mercedes – o primeiro foi o Classe B e depois virão o sedã CLA e o crossover GLA -, o Classe A 2014 estreia por aqui na versão A200 com duas opções de acabamento e conteúdo: Style, a R$ 99.900, e Urban, a R$ 109.900.CARPLACE passou um dia a bordo do modelo mais caro e conta como foi a experiência.
O que é?
Trata-se da primeira investida da Mercedes no mundo dos hatches médios premium, uma categoria em que design, acabamento e equipamentos falam tão alto quanto desempenho e status. E podemos dizer que a chegada foi com o pé direito: o primeiro impacto do A200 é certamente visual, garantido pelas linhas mais sedutoras que a dos principais rivais. Além de bonito e cheio de personalidade (mesmo considerando os demais Mercedes), o Classe A é também um exemplo de design eficiente: tem coeficiente aerodinâmico (Cx) de apenas 0,27, dado que contribui para o consumo e o silêncio interno na estrada. Nesta versão Urban, as rodas de aro 17 polegadas são bem mais atraentes que as 16″ do modelo mais barato, chamado estranhamente de Style – quando na verdade o Urban é que investe mais no estilo.
A beleza interior também é destaque, com um painel bem esculpido e muito bem acabado. Tanto a parte superior da peça quanto o revestimento de cor clara que atravessa o painel são macios ao toque e exibem texturas agradáveis, enquanto 17 pontos de iluminação (por LEDS amarelados) dão um toque todo especial à cabine quando anoitece. Também são legais os acabamentos em aço escovado e as saídas de ar estilo turbina de avião, como no SLS. Os bancos integrais (com apoio de cabeça junto ao encosto) lembram os da Porsche e trazem revestimento de couro e tecido combinados, adicionando um tempero de esportividade junto aos instrumentos de fundo branco.
A posição de dirigir é facilmente encontrada graças às múltiplas regulagens (todas manuais) de banco e volante. A destacar a possibilidade de ajustar a altura do banco tanto pela catraca (que levanta o banco todo) quanto por uma roldana que altera a altura do assento na área da coxa. O volante tem formato esportivo, mas, herdado do Classe C, ficou um pouco grande nessa cabine mais estreita do Classe A. De caráter inovador, o hatch merecia um volante exclusivo.
A acomodação é muito boa para os ocupantes da frente e surpreendentemente confortável atrás, dado o perfil mais esportivo do novo A. Com meu 1,78 m, fiquei folgado tanto em relação ao encosto da frente como também para o teto. Só o “quinto elemento” é que não tem muita vez. Tirando isso, os bancos são bastante aconchegantes e convidam a viagens mais longas. Já o porta-malas, de 341 litros, “bate” com a categoria de hatches médios.
A decepção fica por conta da falta de recursos. Se o acabamento é nitidamente mais refinado que o do BMW Série 1, a telinha de 5,8 polegadas no centro do painel não convence. É pequena e não traz navegação por GPS, além de ter comandos complicados, feito em botões no console – a Mercedes não aposta na tecnologia sensível ao toque, por acreditar que distrai o motorista. Depois de testar sistemas de carros bem mais baratos, como o My Link da Chevrolet ou a central de entretenimento do Peugeot 208, confesso que esperava mais de um Mercedes. Pelo menos há entradas USB/AUX e conexão Bluetooth para celular. Mas outra coisa que o 208 tem e o Classe A não é o ar digital de duas zonas – apenas uma temperatura no alemão. Por fim, faltou também o teto-solar, ainda que opcional.
Como anda?
Fruto de uma nova plataforma de tração dianteira e motor transversal, o Classe A pega emprestado o motor 1.6 turbo que o Classe C usa em posição longitudinal. Mas a transmissão é toda nova, uma automatizada de dupla embreagem e sete marchas (chamada de 7G-DCT), em teoria mais rápida e eficiente em termos de economia que a tradicional automática 7G-Tronic do C. Curiosamente, a alavanca do câmbio fica na coluna de direção, onde em teoria você encontra a alavanca dos limpadores na maioria dos carros. Requer certo costume, mas abre espaço para um bom porta-objetos no console. De resto, a carroceria se apoia em suspensões independentes nos dois eixos e a direção tem assistência elétrica.
Começando o test-drive pela Marginal Pinheiros em direção à Rodovia dos Bandeirantes, na capital paulista, a primeira coisa que me chamou atenção no A200 foi a suspensão firme. Mesmo o passageiro pôde notar como o carro sentia e repassava aquelas “tartaruguinhas” que dividem as pistas, fato reforçado pelas rodas aro 17 com pneus de perfil baixo (225/45 R17). Uma vez no trânsito, deixei o câmbio na posição Economy e o sistema start-stop (que desliga o motor em paradas rápidas) ativado, para a melhor economia possível.
O motor 1.6 agrada pelo funcionamento “liso” e pela oferta de torque logo acima da marcha lenta. São bons 25,5 kgfm disponíveis desde baixas 1.250 rpm, numa entrega plana até 4.000 giros que deixa o hatch bem disposto a caçar espaços no tráfego urbano e fazer ultrapassagens na estrada. A marca de 0 a 100 km/h em 8,3 s divulgada pela Mercedes dá uma boa ideia da esperteza do Classe A nas saídas. Entrando na rodovia, o câmbio logo jogou a sétima marcha e manteve o propulsor trabalhando calminho, a 2.100 rpm, enquanto a velocidade estava estabilizada nos 120 km/h. Nesse ritmo, registramos a boa marca de 14,3 km/l de consumo médio pelo computador de bordo. Como a Mercedes alardeou, o ruído interno é baixo, mas o rodar é mais áspero do que poderia se esperar em asfalto rugoso.
O A200 viaja bem postado à estrada e tem aquele jeitão germânico de se manter sereno mesmo em velocidades mais elevadas – a máxima indicada pela fábrica chega a 224 km/h. Estamos, de fato, num Mercedes. Interessante ver que a marca está se modernizando, como ao adotar as borboletas no volante em todos os Classe A – coisa que a BMW não faz com o Série 1. As trocas do câmbio são ágeis, mas algo me diz que a turma do conforto ganhou essa parada. As passagens são claramente programadas para acontecer suavemente, sem nenhum tranco, mesmo com a transmissão no modo Sport. Como base de comparação, o câmbio S-Tronic da Audi é mais seco e esportivo. No fim, o DCT da Mercedes parece um câmbio automático comum, com a vantagem de aceitar reduções com giro alto para uma entrada de curva, por exemplo. No modo Manual, a marcha seguinte entra automaticamente se você extrapolar a faixa vermelha do conta-giros.
E por falar em motor em alta, é também sensível que esse 1.6 foi “amansado” para o A200. Isso porque aquele bom pique de torque inicial não é acompanhado pela potência, limitada a 156 cavalos com o giro a contidas 5.300 rpm. Na prática, o Classe A parte vigoroso, mas não mostra o mesmo fôlego depois que a velocidade vai aumentando (situação em que o BMW 118i abre boa vantagem, com seus 170 cv). Não que falte desempenho ao Classe A, longe disso, mas sentimos um gostinho de “quero mais” especialmente num trecho de curvas e subidas em que o carro foi mais exigido. Ali, a boa surpresa ficou pela dinâmica do hatch.
Firme de suspensão, como havíamos descoberto desde o começo, o A200 exibe movimentos equilibrados e aderência de sobra. Mesmo o nariz longo do modelo não faz dele um carro com muita tendência a sair de frente, coisa que realmente só acontece no limite e, surpreendentemente, com pouca intervenção do controle de estabilidade (que não pode ser desativado, somente o de tração). Mas se a suspensão faz a parte dela, a leve direção elétrica filtra demais as sensações vindas dos pneus, mostrando que a pegada principal aqui é conforto. Já o câmbio mostrou obediência nas reduções fortes pelas borboletas, enquanto os freios exibiram mordidas eficazes e ótima modulação do pedal, sempre firme. Veredicto? Divertido, mas cadê o A250 de 211 cv? E aquele AMG 4×4 de 360 cv? Hummm…
De volta à São Paulo no meio de um trânsito infernal de fim de tarde, ainda deu tempo para conferir outra atração do Classe A. O sistema Hold, que segura o freio acionado enquanto o carro está parado, livrando o esforço de ter que ficar pressionando o pedal. Basta dar um cutucão no freio e ver se a luz que indica o sistema acendeu no painel. Fora esse recurso, o A200 vem com aquela sopa de letrinhas de itens de segurança que é característica dos Mercedes, incluindo o assistente de fadiga que sugere uma xícara de café ao motorista sonolento. Airbags são sete, sendo um para os joelhos do condutor.
Quanto custa?
A Mercedes cumpriu, por R$ 100, a promessa de lançar o Classe A no Brasil abaixo dos R$ 100 mil. Mas nem a marca acredita muito nessa versão de entrada, tanto que estipulou um mix de vendas de apenas 20% para a Style e de maciços 80% para a Urban, de R$ 10 mil extras. Analisando o pacote de equipamentos fica claro o posicionamento da Mercedes, pois algumas das atrações do novo A só estão disponíveis no pacote mais caro. São elas os faróis bi-xenôn com feixe de LEDs, as lanternas de LEDs, o ar digital, as rodas aro 17, a saída dupla de escape (funcional), a iluminação interna com 17 pontos de LEDS e o quadro de instrumentos de fundo branco, sem falar em outras diferenciações como frisos cromados na carroceria e cor de revestimento do painel.
Para ajudar nas vendas (previstas em dois mil carros até o fim do ano), a Mercedes propõe desde já um financiamento com taxa de 0,84% ao mês: entrada de R$ 59.940 (60%) e mais 36 x de R$ 1.362. É a marca da estrela entrando na briga iniciada pela BMW, que lançou o 116i abaixo de R$ 90 mil. E a guerra tende a ficar mais disputada a partir de maio, quando a Audi começa a vender por aqui o novo A3, construído sobre a moderna plataforma MQB e equipado com motor 1.8 TFSI de 180 cv aliado ao câmbio S-Tronic de sete marchas.
Vale lembrar que o Classe A é um dos modelos mais cotados para retomar a produção de carros de passeio da Mercedes por aqui. Fontes ligadas à marca garantem que a decisão está tomada e engenheiros alemães já trabalham inclusive na versão flex desse motor 1.6 turbo para equipar os modelos nacionais, faltando apenas acertar alguns detalhes para que a empresa faça o anúncio oficial. De todo modo, há tempo de sobra para curtir o A200 importado. Essa nova fábrica não deve começar a operar antes de 2015.
Ficha técnica – Mercedes-Benz A200
Motor: dianteiro, transversal, quatro cilindros, 1.595 cm3, 16 válvulas, comando duplo; injeção direta e turbo; Potência: 156 cv a 5.300 rpm; Torque: 25,5 kgfm de 1.250 a 4.000 rpm;Transmissão: câmbio automatizado de sete marchas, dupla embreagem, tração dianteira;Direção: elétrica; Suspensão: Independente Mac Pherson na dianteira e four-link na traseira;Freios: discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira, com ABS; Peso: 1.370 kg; Porta-malas: 341 litros; Dimensões: comprimento 4,292 mm, largura 1,780 mm, altura 1,433 mm, entreeixos 2,699 mm; Aceleração 0 a 100 km/h: 8,3 s; Velocidade máxima: 224 km/h
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