Já não se faz nem criminosos como antigamente. Dá pra imaginar um ladrão de bancos mandando uma carta à Ford elogiando seus carros? Pois foi exatamente o que John Dillinger e Clyde Barrow fizeram há mais de 80 anos, quando escreveram, cada um ao seu jeito, cartas a Henry Ford.
O primeiro deles foi Clyde Barrow. Você talvez não esteja associando o nome ao criminoso, mas ele formava dupla com sua namorada Bonnie Parker, e ambos ficaram mais conhecidos como Bonnie & Clyde. Juntos de sua gangue, o casal ganhou destaque por sua onda de crimes que aterrorizou a região central dos EUA.
A principal atividade da Barrow Gang era roubar lojas e bancos, e obviamente eles precisavam de algo possante para fugir das autoridades. A julgar pelo período de atuação da gangue, Clyde sabia escolher seus carros: eram sempre os modelos V8 da Ford, quase sempre o Model 18, equipado com o novo motor flathead 3.6 de 66 cv (aquele que impulsionaria os hot rods duas décadas depois).
Segundo a lenda, Clyde sentia tanta confiança nos carros da Ford, e gostava tanto deles, que teria escrito uma carta de agradecimento a Henry Ford, elogiando seus produtos. O conteúdo da suposta carta é o seguinte:
Tulsa Oklahoma
10 de abril
Sr. Henry Ford
Detroit, Michigan
Prezado senhor:
Enquanto ainda tiver fôlego em meus pulmões direi que belo carro você faz. Sempre dirijo Fords quando preciso fugir de alguém. Com a velocidade e a confiabilidade do Ford, acabo com todos os outros carros, e mesmo que meu trabalho não seja estritamente legal, não é demais dizer que grande carro é esse seu V8.
Cordialmente
Clyde Champion Barrow
Quarenta e três dias depois de escrever a carta, em 23 de maio de 1934, Bonnie e Clyde foram emboscados pela polícia, que disparou uma rajada de balas contra o Ford Modelo 40 (a versão mais potente, com 86 cv) no qual fugiam.
O casal morreu a bordo de um dos carros que tantas vezes lhes garantiu a liberdade impune. A carta está exposta no Ford Museum, mas sua autenticidade é questionada desde sempre.
Uma semana antes da morte de Bonnie e Clyde, no dia 16 de maio de 1934, um outro famoso ladrão escrevera uma carta de agradecimento a Henry Ford. Seu nome era John Dillinger, e se você já assistiu ao filme “Inimigos Públicos” (Public enemies – 2009), com Johnny Depp e Christian Bale, já conheceu bem sua história. Se ainda não viu, Dillinger era um gângster ladrão de bancos que também sempre usava os V8 Ford (em sua maioria os cupês e sedãs do Modelo B) para garantir a fuga dos tiras.
Ele acabou preso após um roubo a banco em janeiro de 1934 e foi levado à prisão de Crown Point, sob a custódia da xerife Lilian Holley. A xerife se orgulhava da alta segurança de sua prisão, dizendo que ela era “inviolável”.
Pois bem, esse orgulho da xerife Holley começou a desmoronar em 3 de maio de 1934. John Dillinger esculpiu uma arma de madeira usando uma lâmina de barbear e o pedaço de uma prateleira e rendeu um dos funcionários da prisão. Como se não bastasse, ele ainda roubou o Ford V8 da juíza para completar a fuga.
Dillinger se reuniu ao seu bando e seguiu pelo meio-oeste americano uma onda de crimes por Winsconsin e Minnesota, com direito a tiroteios com os policiais. Tudo a bordo do V8 da juíza, que teria jurado matar Dillinger com sua própria pistola, caso o encontrasse novamente.
No dia 6 de maio, após sua fuga, John Dillinger decidiu agradecer Henry Ford por ter feito aquele belo Modelo B V8. Em Minneapolis, Minnesota, ele escreveu o seguinte:
Prezado sr. Ford
Quero lhe agradecer por ter feito o Ford V8 assim tão rápido e robusto, ou eu não teria conseguido me livrar dos tiras naquele episódio em Winsconsin e Minnesota.
Espero um dia poder agradecê-lo pessoalmente
John Dillinger
A carta de Dillinger ficou escondida durante 75 anos, e foi encontrada em cópia pelo pessoal do Jalopnik US nos arquivos da pasta de Henry Ford no FBI pela lei americana de acesso à informação. Os caras entraram em contato com a Ford, que não conhecia a existência da carta, mas pesquisou seus arquivos históricos e confirmou que ela foi realmente recebida por Ford em 1934.
Dillinger também morreu em 1934, no dia 22 de julho — 78 dias depois de escrever sua carta. Ele foi emboscado pela polícia em um cinema com a ajuda de uma amiga de sua namorada que estava com problemas de imigração da Romênia. Por isso ela fez um acordo com o FBI para entregar Dillinger. Ao sair do cinema, Dillinger foi baleado três vezes pela polícia e morreu no local com um dos tiros acertando seu coração. A moça, Anna Cumpanas, acabou deportada dois anos depois.
Nenhum comentário:
Postar um comentário