Uma das modificações automotivas mais polêmicas que existem é a instalação de sistemas de suspensão a ar que basicamente substituem as molas helicoidais convencionais por bolsas de ar comprimido. Não é difícil encontrar quem pense que a suspensão a ar só serve para facilitar a vida de carros ultra rebaixados, mas na verdade o sistema é bem mais antigo do que qualquer tendência tuning e tem aplicações bem maiores do que regular a altura do seu carro.
Mas quais são elas? E, afinal de contas, como alguém teve a ideia de trocar molas por bolsas de ar?
Como surgiu a suspensão a ar?
O primeiro sistema parecido com o que chamamos hoje de suspensão a ar foi patenteado em 1901 por William W. Humphreys, que chamou o sistema de “Mola Pneumática para Veículos”. Ele consistia em duas longas bolsas longitudinais que percorriam todo o comprimento do veículo, e cada uma delas tinha uma válvula de ar.
O sistema não viu aplicação prática, mas em 1909 a companhia britânica Cowey Motor Works introduziu um sistema que usava um cilindro com um diafragma feito de borracha, inflado usando uma bomba de bicicleta. Contudo, os materiais disponíveis na época não eram exatamente de qualidade, e por isso o sistema vazava e precisava ser inflado com frequência.
A primeira suspensão a ar confiável a ponto de ter uma utilização prática foi desenvolvida pela Firestone especialmente para o último protótipo Stout Scarab Experimental, apresentado em 1946, que também foi o primeiro carro com carroceria de fibra de vidro no mundo. O princípio era o mesmo dos sistemas modernos: quatro bolsas de ar substituíam as molas convencionais, e tinham sua pressão controlada por quatro pequenos compressores ligados a cada uma das bolsas.
#Chorecavalheiro, não é #fixa
O Stout Scarab nunca chegou a ser produzido, mas o sistema de suspensão a ar encontrou aplicações práticas em veículos comerciais pouco tempo depois — era uma boa solução para nivelar a altura de rodagem de um veículo pesado, como um caminhão carregado ou um ônibus.
Depois da introdução da suspensão hidropneumática, que aconteceu em 1954 com o Citroën DS, fabricantes começaram a enxergar na suspensão a ar um equivalente mais barato ao sistema francês. A General Motors, uma das primeiras a empregar a suspensão a ar em veículos comerciais, passou a oferecê-la como item de série no Cadillac Eldorado Broughham em 1957, tornando-se também uma das primeiras a empregar um sistema em carros de passeio.
Publicações da época diziam que a suspensão a ar era mais macia do que a convencional com molas, mas não muito. Além disso, observavam que o tempo de reação era maior em manobras repentinas, o que poderia representar um risco à segurança. Sendo assim, logo os carros com suspensão a ar foram descontinuados, e a suspensão a ar só voltaria a ser oferecia em um carro americano em 1984, com o Lincoln Continental Mark VII.
Isto não impediu que outras fabricantes pelo mundo desenvolvessem seus próprios sistemas e adotassem a suspensão a ar em seus modelos mais caros. Em 1962, por exemplo, a Mercedes-Benz, tinha o 300SE (W112) com uma bolsa de ar em cada eixo, ambas controladas por uma válvula Bosch, e também passou a oferecer o sistema na limusine 600 Grosser, que foi produzida até 1984.
A partir dali, inúmeros sistemas de suspensão a ar, de fábrica ou aftermarket — os mais famosos são os da Air Lift Performance — começaram a surgir.
Como funciona?
Os sistemas de suspensão a ar modernos consistem, normalmente, das bolsas, tanque de ar, mangueiras e um compressor. Este pode ser controlado pelo motorista e/ou por sensores que monitoram a pressão do ar e a altura do carro, ajustando automaticamente a altura e a rigidez da suspensão de acordo com as condições de rodagem. Os sistemas de suspensão a ar podem ser controlados individualmente — cada bolsa pode ter uma pressão diferente ao mesmo tempo — ou por eixo.
Mas quais benefícios, exatamente, traz a suspensão a ar? Além do já citado conforto extra ao rodar e da capacidade de ajustar a carga da suspensão de acordo com a situação, as bolsas de ar eram usadas por pilotos de stock car americanos na década de 50 para conseguir mais aderência nos circuitos ovais — com mais pressão nas bolsas que ficavam do lado de fora do circuito oval, a inclinação da pista era compensada pela diferença de altura e rigidez entre os dois lados do carro.
Um stock car da década de 50 equipado com suspensão a ar
Mais recentemente a suspensão a ar começou a ser instalada em veículos para fins estéticos conseguir um stance mais agressivo sem, contudo, ficar preso em uma altura escandalosamente baixa ou de desempenho, proporcionando a possibilidade de ajustar a carga da suspensão apenas regulando a pressão das bolsas de ar. A maioria dos sistemas modernos é de fácil instalação, visto que as bolsas são colocadas no lugar das molas helocoidais.
Contudo, também existem soluções para carros com eixo de torção e feixes de molas — normalmente consistindo em retirar algumas lâminas e substituí-las pelas bolsas, ou migrar para um sistema multibraço (algo mais caro e trabalhoso).
Outra aplicação moderna da suspensão a ar é nos veículos off-road, como os Land Rover atuais, que usam o sistema para controlar automaticamente a altura de rodagem de acordo com o modo de condução selecionado.
Além dos off-roaders, os sedãs de luxo como o Mercedes-Benz Classe S, Rolls-Royce Phantom e até a nova geração do Mercedes-Benz Classe C, também usam suspensão a ar para proporcionar uma rodagem mais confortável e simples de adaptar aos modos de condução.
Posso ter um sistema de suspensão a ar no meu carro?
No Brasil, desde março deste ano está liberada a utilização de suspensão regulávelaftermarket (antes, só se viesse de fábrica)— o que inclui a suspensão a ar — desde que a altura mínima seja de 100 mm em relação ao solo, e as rodas não toquem em nenhuma perte do veículo quando forem esterçadas. Além disso, é preciso um laudo técnico do Inmetro para que a suspensão seja regularizada no documento.
E, naturalmente, você deve se preocupar sempre em procurar kits de suspensão a ar de boa qualidade, feitos por empresas confiáveis. É extremamente importante ter cuidado na escolha de sua suspensão a ar. Um kit de má qualidade está sujeito a falhas como bolsas e mangueiras que se rompem e defeitos no compressor elétrico.
Uma bolsa que desinfla de repente com o carro em movimento pode causar um acidente grave — ou, no mínimo, seu carro vai ficar “arriado” e você não vai poder rodar até trocar a bolsa defeituosa. Seja ele de morrer ou de ficar ridículo, você não quer correr o risco, não é?
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