Quem nunca pensou num Uno T-Jet, com o propulsor 1.4 turbo do Punto? E que tal um Onix com o Ecotec 1.8 do Cruze? Ou ainda um Ka com o 2.0 Duratec do Focus? As possibilidades são infinitas, mas elas quase nunca se tornam realidade. Ainda bem que eu disse quase… Pois esse Fiat 500 das fotos é um raro representante desta espécime que rouba o motor dos irmãos maiores. Sob o pequenino capô está o propulsor 1.4 turbo do Punto e do Bravo T-Jet. E na lataria estão espalhados os logotipos da Abarth, braço esportivo da Fiat que tem volta ao Brasil (já existiu no Stilo) marcada para o fim do ano a bordo desse Cinquecento.
O que é?
O 500 Abarth é o que os europeus chamam de “pocket rocket”, algo como foguete de bolso, por seu temperamento nervoso embalado num pacote reduzido. Quem já dirigiu um Cinquecento sabe que o carrinho é esperto e tem “base” para um pouco mais de pimenta. O Abarth é a materialização desse desejo: motor 1.4 16V turbo de 160 cv, direção mais direta, rodas maiores (aro 17), pneus mais largos (205/40) e, para acompanhar, suspensão enrijecida para segurar a carroceria no chão. Resumindo, um brinquedão!
A imagem retrô do 500 ganha ares de carro de competição nessa versão, com para-coques mais bojudos, spoilers, saias laterais e adesivos colados pela carroceria. Para combinar, a caracterização interna inclui bancos tipo concha com abas bem pronunciadas, daqueles que abraçam o corpo. O painel de instrumentos ganha mais um reloginho à esquerda do mostrador principal, que informa a pressão do turbo. E a manopla do câmbio (que continua perfeitamente posicionado a menos de um palmo da direção) recebe uma manopla menor e mais esportiva. Por fim, o volante também tem desenho mais agressivo, com pegada mais grossa e apoio mais definido para os polegares.
Como anda?
“Vestido” pela boa posição de dirigir (embora o volante só ajuste em altura e a perna direita encoste no painel), saio com cautela. Não que o Abarth seja bravo demais, o problema é a neve que teima em cobrir o asfalto da estrada que liga a pequena Arjeplog ao círculo polar ártico, no norte da Suécia. Esse 500 é parte da caravana que estamos usando na visita ao centro de testes de inverno da Fiat na região da Lapônia, a terra do Papai Noel.
Como no Punto T-Jet, o 500 tem pegada logo que acorda, devido ao turbo pequeno e de baixa inércia, que opera com até 1,2 kg de pressão. O torque de 23,5 kgfm a 3.000 rpm faz com que o controle de tração seja exigido a qualquer pisada mais forte no acelerador, dada as condições escorregadias do piso. Enquanto a neve cai, deixo o câmbio em terceira marcha e mantenho cerca de 60 km\h com certa frustração – afinal, estamos num carrinho de 1.035 kg com 160 cavalos e um ronquinho nervoso esperando para mostrar do que é capaz.
Mesmo devagar é possível notar o comportamento espevitado desse 500. A suspensão é bem mais firme que nas versões mansas, acompanhando com fidelidade as raras imperfeições do piso sueco, e a direção é bem direta (embora um pouco leve), proporcionando grande agilidade ao esportivinho. Fico imaginando esse Cinquecento driblando o trânsito, quase como uma cena de filme de perseguição.
Lá pelo meio da tarde, quase chegando ao Polo Norte, a neve dá uma trégua e o sol brilha bonito no asfalto agora quase seco. É a senha para reduzir marcha e chamar o 500 para a briga. Sim, o motor enche rápido e, sim, parece que estamos num Punto T-Jet menorzinho, mais ágil e rápido. A Fiat indica 0 a 100 km\h em 7,4 segundos, e não há muita margem para duvidar desse tempo: estamos num legítimo foguetinho de bolso. O câmbio tem engates curtos e precisos, enquanto os freios parecem fortes e bem dimensionados. As largas e longas curvas do trajeto não chegam a desafiar a estabilidade do modelo, que se mantém firme mesmo durante as esticadas até uns 150 km\h. O entre-eixos curto, porém, faz do 500 um carro arisco em altas velocidades, podendo tornar você de um “às” ao volante para um asno ao volante em questão de segundos.
Foi o que pudemos conferir na pista circular de gelo polido, sobre um lago congelado. Uma condição de aderência quase nula, onde os limites de qualquer carro aparecem muito antes do normal. O 500 era sem dúvida o mais divertido dos Fiats à disposição (incluindo alguns Alfas), proporcionando derrapagens controladas a quase 100 km/h. Mas ele exige manobras rápidas de correção (no que a direção direta ajuda), sob pena de rodopiar sem dó. Algo que lembra o antigo Ford Ka, só que com bem mais motor.
O ponto negativo do Abarth fica por conta do conforto. Ele soma o espaço interno exíguo do 500 com uma rigidez de suspensão que supostamente deve sofrer no Brasil. Outro ponto a melhorar é o pequeno tanque de combustível, de 35 litros, que limita a autonomia quando a gente resolve pisar mais fundo.
Quanto custa?
A Fiat ainda não fala abertamente, mas fontes ligadas à marca garantem que está confirmado o retorno da Abarth ao Brasil para o fim do ano – no mais tardar começo de 2014. Por isso, ainda é cedo para falar em preços. Espere, no entanto, que o esportivo seja o modelo top da linha 500 por aqui, custando na faixa dos R$ 65 mil. A oferta será limitada, como no caso do 500 Cabrio, porque o Abarth vai usar a mesma cota de importação do México dos demais Cinquecentos. Mesmo vindo a conta-gotas, será uma opção bem divertida para extravasar o lado moleque que existe em cada um de nós.
Texto e fotos Daniel Messeder, de Arjeplog, Suécia
Viagem a convite da Fiat
Ficha técnica – Fiat 500 Abarth
Motor: dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, turbo e intercooler, 1.368 cm3,
gasolina; Potência: 160 cv a 5.500 rpm; Torque: 23,5 kgfm a 3.000 rpm;
Transmissão: câmbio manual de cinco marchas, tração dianteira;
Direção: elétrica; Suspensão:independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira;
Freios: discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira, com ABS; Peso: 1.035 kg;
Capacidades: porta-malas 185 litros, tanque 35 litros;
Dimensões: comprimento 3,657 mm, largura 1,627 mm, altura 1,485 mm, entreeixos 2,300 mm;
Desempenho: aceleração 0 a 100 km/h: 7,4 segundos; velocidade máxima 210 km/h