O Gol acaba de completar 27 anos de liderança do mercado brasileiro de carros de passeio. Foram nada menos que 7,5 milhões de unidades produzidas desde que o modelo chegou às lojas como substituto do Fusca, em 1980. Apesar de o carro atual ser chamado de “G6″ pelo público, trata-se da terceira geração do hatch com uma reestilização. Isso mesmo: se considerarmos somente as mudanças profundas, tivemos o Gol “bolinha” de 1994 e depois o G5 de 2008, quando ele passou a usar a plataforma de Polo/Fox e adotou finalmente o motor em posição transversal. Somente em 2013, emplacou mais de 255 mil unidades – consideradas ainda as vendas do antigo G4, que deixou de ser produzido no fim do ano passado.
Vender tudo isso, porém, não faz do Gol o veículo de maior sucesso do país. Este mérito cabe à Honda CG, líder inabalável de vendas desde que começou a ser produzida em Manaus (AM), em 1976. De lá para cá, ela já superou a impressionante marca de 10 milhões de unidades produzidas. Atualmente na oitava geração, lançada em 2013, a “CGzinha”, como é popularmente apelidada, soma mais de 45 mil unidades por mês se contabilizadas as versões 125 e 150 cc.
Qual o segredo de Gol e CG para vender tanto? Para descobrir a resposta, reuniu o Gol 1.0 Bluemotion (R$ 33.138) e a CG Titan 150 (R$ 7.320) para uma avaliação conjunta, com fotos num local que não poderia ser mais apropriado para modelos tão vendidos: um supermercado. Como vocês podem observar pelas imagens, contamos até com a participação do Êxito, um prestativo carrinho de compras.
Tradição
Antes de entrar no Gol ou subir na CG, é preciso olhar um pouco a estrutura que existe por trás destes campeões. E aqui vemos que a tradição fala alto na hora de o brasileiro fechar negócio. A Volkswagen foi a primeira fabricante de automóveis a se instalar no Brasil, em 1959 com a (quase) eterna Kombi, enquanto a Honda Motos começou em 1976 justamente com a CG 125 – não foi a primeira porque a Yamaha já montava a RD 50 desde 1974. Juntas, VW e Honda ajudaram a motorizar o Brasil, assim como fizeram a Fiat (500) e a Piaggio (Vespa) na Itália.Hoje, essas marcas têm a maior rede de concessionárias e assistência técnica do país, em automóveis e motos, respectivamente: são mais de 600 pontos da marca alemã e 1.200 da empresa japonesa. A diferença é que a Honda dominou 80,77% do mercado nacional de duas rodas em 2013, enquanto a VW perdeu a liderança do setor para a Fiat há 12 anos, mantendo a segunda posição com 18,6% de participação no ano passado.
Pioneirismo
Outro ponto que ajuda a entender o êxito (não o carrinho do mercado!) destes modelos é o fato de terem sido inovadores em diversas áreas. A CG brasileira, por exemplo, se tornou a primeira moto a álcool do mundo, em 1981. Oito anos depois, em 1989, o Gol inaugurava a era da injeção eletrônica nos carros nacionais, com o esportivo GTI. Em 2004, a VW inovaria mais uma vez com o Gol 1.6 TotalFlex, o pioneiro a adotar a tecnologia bicombustível. A CG não foi a primeira moto injetada do mercado (honra que coube à Yamaha Fazer 250 em 2006), mas em compensação teve a primazia de trazer o sistema flex para as motos, com a versão 150 Mix em 2009.O Gol ainda leva reconhecimento por mais duas novidades: em 1997, foi o primeiro “popular” com cabeçote de quatro válvulas por cilindro, alardeando seu motor 1.0 16V de 69 cv. Depois, em 2000, chegava a versão 1.0 16V Turbo, com saudáveis 112 cv. Ambos não deram certo em suas épocas, mas anteciparam o melhor aproveitamento em motores de baixa cilindrada, uma prática muito em voga na atual demanda pelo downsizing.
Facilidade e resistência
Para facilitar a manutenção, por exemplo, a versão 125 cc mantém o velho carburador até hoje. Este modelo, segundo a marca, ainda é bastante procurado pelo público das regiões norte e nordeste. Já o Gol foi se atualizando e perdendo aquela fama do Fusca, que “qualquer mecânico de esquina consertava”, mas guarda boa reputação de resistência. Apenas o episódio do problema de lubrificação do motor 1.0 VHT do Gol G5 (em que a ação do etanol combustível provocou a perda das propriedades de lubrificação do óleo) manchou um pouco o bom histórico do modelo no que se refere a durabilidade.
Para que não restassem dúvidas quanto à eficiência do carro, a VW tornou a mexer no seu motor 1.0 e o rebatizou de TEC (Tecnologia para Economia de Combustível). Este é o propulsor que trabalha sob o capô do Gol Bluemotion avaliado aqui, que oferece 72/76 cv de potência e 9,7/10,6 kgfm de torque, e fornece um desempenho aceitável para o hatch. Em nosso teste com a versão Track, por exemplo, o Gol acelerou de 0 a 100 km/h em 16,7 segundos, enquanto o Uno Way 1.0 levou 18,1 s na mesma medição.
Nesta versão Bluemotion, temos pneus de baixa resistência à rodagem e um computador de bordo que ensina você a economizar. Ele avisa a hora correta da troca de marcha, alerta para não acelerar com o carro parado e ainda briga com você se estiver usando o ar-condicionado e mantiver alguma janela aberta. Pode parecer pentelho, mas, abastecido com gasolina, o modelo fez uma boa média de 13 km/l na cidade e 18 km/l na estrada.
Não se trata, no entanto, da geração mais moderna de motores 1.0 da VW – e está aí o novo EA211 de três cilindros para não me deixar mentir. Já incorporado ao Fox Bluemotion e único propulsor a ser oferecido no Up!, que chega em fevereiro, ele deverá ser ofertado também no Gol em breve – primeiro na versão 1.6 16V de quatro cilindros. Passando à CG, ela também mantém os consagrados monocilíndricos 125 cc carburado e 150 cc FlexOne, este último que equipava a Titan avaliada. Com 14,3 cv e 1,45 kgfm de torque a 6 mil rpm, é suficiente para a locomoção diária, não fazendo feio nem mesmo em avenidas de fluxo rápido. Manter 100 km/h não chega a ser tarefa exaustiva, mas pegar estrada requer cautela – ela nasceu para a cidade. Abastecida com etanol, registrou média de 29 km/l durante nossas andanças.
Pontos em comum entre Gol e CG são diversos. Para começar, temos a facilidade de condução. O VW apresenta pedais leves, câmbio macio e preciso, bons freios e suspensão bem acertada entre conforto e estabilidade – apenas a direção poderia ser um pouco mais leve. Já a pequena Honda teve o chassi totalmente refeito na última mudança, ficando mais leve (apenas 10 kg) e tornando a moto ainda mais maleável. Atributos como câmbio preciso e macio, ótimo ângulo de esterço e freios eficientes também fazem parte do pacote – a marca até alterou os flexíveis para deixar a resposta de frenagem menos brusca, sem perder eficiência.
Assim como no Gol, no entanto, o grande destaque da CG vai para a suspensão: com 5 mm a mais de curso tanto na dianteira quanto na traseira, o conjunto trabalha de forma impecável, oferecendo uma impressionante capacidade de absorção de impactos e estabilidade mais do que suficiente para o desempenho entregue pelo motorzinho. Na cidade é quase uma trail ao atropelar valetas e quebra-molas – só não faz trilha.
Em termos de montagem e acabamento, Gol e CG são simples, mas bem feitos. Encaixes corretos, ausência de rebarbas nas peças plásticas e quadro de instrumentos de fácil visualização estão presentes nos dois. Mas nem tudo são flores: na CG, já era possível verificar corrosão em algumas emendas de solda, apesar de ser uma unidade 2013. E no painel (todo digital) falta um conta-giros e um indicador de marcha, que seria útil para os iniciantes. Para completar, a inversão de posição entre seta e buzina foi uma péssima ideia da Honda. No Gol, deixa a desejar a “frieza” do ambiente interno, todo de plástico cinza, e o volante de toque muito rígido. Outra coisa que poderia ser revista é o sistema de ajuste de altura do banco, em que apenas a parte traseira do assento levanta. No aspecto conforto, o novo banco da CG é ótimo. Mas só o Gol carrega cinco ocupantes e bagagem…
Motor: dianteiro, transversal, quatro cilindros, 8 válvulas, 999 cm³, flex; Potência: 72/76 cv a 5.250 rpm;
Assim como no Gol, no entanto, o grande destaque da CG vai para a suspensão: com 5 mm a mais de curso tanto na dianteira quanto na traseira, o conjunto trabalha de forma impecável, oferecendo uma impressionante capacidade de absorção de impactos e estabilidade mais do que suficiente para o desempenho entregue pelo motorzinho. Na cidade é quase uma trail ao atropelar valetas e quebra-molas – só não faz trilha.
Em termos de montagem e acabamento, Gol e CG são simples, mas bem feitos. Encaixes corretos, ausência de rebarbas nas peças plásticas e quadro de instrumentos de fácil visualização estão presentes nos dois. Mas nem tudo são flores: na CG, já era possível verificar corrosão em algumas emendas de solda, apesar de ser uma unidade 2013. E no painel (todo digital) falta um conta-giros e um indicador de marcha, que seria útil para os iniciantes. Para completar, a inversão de posição entre seta e buzina foi uma péssima ideia da Honda. No Gol, deixa a desejar a “frieza” do ambiente interno, todo de plástico cinza, e o volante de toque muito rígido. Outra coisa que poderia ser revista é o sistema de ajuste de altura do banco, em que apenas a parte traseira do assento levanta. No aspecto conforto, o novo banco da CG é ótimo. Mas só o Gol carrega cinco ocupantes e bagagem…
Liderança até quando?
Que Gol e CG não são líderes à toa, deu para perceber ao longo da avaliação. Não que os rivais não estejam à altura (ou sejam até melhores), mas ambos conseguem reunir um conjunto de fatores difícil de bater. Só que liderança é uma coisa delicada, e já a partir de 2014 o Gol pode ter seu reinado ameaçado: é que, pela primeira vez, a VW terá um modelo mais moderno e barato que o Gol, o Up!, que promete revolucionar o segmento dos carros de entrada. Fora isso, o rival Fiat Palio tende a crescer com a versão Fire reposicionada para o lugar do velho Mille. Já a CG 150 finalmente recebeu, ano passado, a resposta da concorrente Yamaha com o lançamento da Fazer 150, trazendo design esportivo e um painel mais bacana. Mas ser líder tem dessas coisas: é preciso estar preparado para todos os desafios.Ficha técnica – Volkswagen Gol Bluemotion
Motor: dianteiro, transversal, quatro cilindros, 8 válvulas, 999 cm³, flex; Potência: 72/76 cv a 5.250 rpm;
Torque: 9,7/10,6 kgfm a 3.850 rpm; Transmissão: câmbio manual de cinco marchas, tração dianteira;
Direção: hidráulica; Suspensão: independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira;
Freios: discos ventilados na dianteira e tambores na traseira, com ABS;
Rodas: aço, aro 14″ com pneus 175/70; Peso: 947 kg; Capacidades: porta-malas 285 litros, tanque 55 litros;
Dimensões: comprimento 3.924 mm, largura 1.659 mm, altura 1.488 mm, entre-eixos 2.467 mm
Ficha técnica – Honda CG 150 Titan
Motor: monocilíndrico, comando simples, 149,2 cm3, injeção eletrônica, flex, refrigeração a ar;
Potência: 14,3 cv a 8.500 rpm; Torque: 1,45 kgfm a 6.000 rpm;
Transmissão: câmbio de cinco marchas, transmissão por corrente; Quadro: aço de alta resistência;
Suspensão: garfo telescópico na dianteira (135 mm de curso) e duploamortecida (82 mm de curso) na traseira;
Freios: disco simples na dianteira (240 mm) e tambor na traseira (130 mm); Pneus: 80/100 aro 18 na dianteira e 90/90 aro 18 na traseira; Peso: 108,9 kg;
Capacidades: tanque 15,4 litros;
Dimensões: comprimento 1.970 mm, largura 730 mm, altura 1.0950 mm, altura do assento 780 mm, entre-eixos 1.300 mm